Quando um nadador fortalece os braços na academia, ele está destruindo as fibras do músculo para que elas se regenerem ainda mais fortes.
Quando uma vacina chega à nossa corrente sanguínea, ela faz o nosso corpo passar por um desafio, para que esteja pronto para o próximo.
Essa habilidade de evoluir por causa de uma adversidade é a antifragilidade.
Hoje, você vai aprender como desenvolver essa soft skill em suas equipes e líderes, para que eles sejam fortes como o sistema imunológico de um medalhista.
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O que é a antifragilidade?
Antifragilidade é a habilidade de abraçar desafios, situações imprevisíveis, aleatórias e transformadoras e se tornar melhor por causa delas.
É sair da zona de conforto e ver nesses “estressores” a oportunidade de avançar, sem medo de errar.
O conceito de antifrágil parte da ideia de que o mundo é muito caótico para que a gente baseie cada ação na previsibilidade das coisas.
Ela surge com a publicação do livro “Antifrágil: Coisas Que Se Beneficiam Com O Caos”, de Nassim Nicholas Taleb. O autor tem carreira como investidor e sempre esteve imerso neste mundo em que um segundo pode construir ou destruir um conglomerado.
Um exemplo do significado de antifragilidade é um país que passou por muitas guerras, desastres naturais e hoje é a 3ª maior economia do mundo - o Japão.
Mas ter antifragilidade não significa amassar o seu planejamento do ano e deixar tudo à própria sorte.
E sim colocar no planejamento oportunidades para correr riscos menores em grande quantidade. Ir de encontro ao erro é importante porque ele faz parte do acerto.
Para que serve a antifragilidade?
Não podemos prever ou evitar muita coisa, mas podemos aprender muito com o conceito de antifragilidade.
Um exemplo disso é que a incerteza, junto com a tentativa e o erro, são fundamentais para o surgimento de inovações reais - cada vez que Thomas Edison falhava em inventar a lâmpada, ele ficava mais e mais perto de achar a solução certa.
Ou seja, a antifragilidade nos ajuda a ver aquilo que não tem garantia sob uma luz mais positivo - mais perto do conceito de desenvolvimento e aprendizado do que de descontrole e ansiedade.
No mundo corporativo, a antifragilidade serve para proteger uma empresa dos grandes desafios, porque os colaboradores, caso sejam antifrágeis, são menos surpreendidos pelo caos e desordem ou lidam melhor com eles, porque estão cientes que um pouco de caos está na origem das grandes transformações.
Afinal, é aprendendo com os erros pequenos que nós evitamos os grandes.
A diferença entre antifragilidade e resiliência
A resiliência é a habilidade que algo tem de voltar à sua forma original depois de sofrer uma pressão. É um conceito importado do campo da Física, e muito associado com as molas.
Na prática, é quando um jogador de futebol se machuca em campo, mas se recupera e volta a jogar como antes da lesão.
A resiliência é uma forma mais “natural” de lidarmos com um desafio.
Afinal, é normal que a gente queira voltar para o conhecido, para o confortável, ao superar uma adversidade.
Mas enquanto a antifragilidade leva ao próximo nível, a resiliência te devolve ao estado original, como se o desafio não tivesse acontecido.
Retomando o exemplo do jogador de futebol, ele seria antifrágil se conseguisse superar suas habilidades pré-lesão.

A diferença entre antifragilidade e resiliência também está presente em outros sistemas - como a medicina e a esfera corporativa. Vamos ver como ela se manifesta neste último campo.
Um Raio-X da antifragilidade corporativa
A antifragilidade é muito importante para as empresas, que precisam evoluir para sobreviver.
Segundo um estudo de 2021 da Deloitte, as principais características das empresas antifrágeis são: adaptabilidade, confiabilidade, colaboração e responsabilidade.
Vamos examinar cada uma delas:
- Adaptabilidade: é quando a empresa tem processos para realocar pessoas para outros projetos ou cargos com facilidade. E também possui programas de treinamento contínuos e oferecem opções flexíveis de trabalho. Por exemplo, você dá oportunidade para que profissionais que já estão na empresa candidatem-se às vagas abertas?
- Confiabilidade: empresas antifrágeis focam na construção da confiança entre todo o seu ecossistema: pessoas, investidores, comunidade e fornecedores. Tudo considerando suas necessidades físicas, emocionais e também digitais.
- Colaboração: quando temos pouca horizontalidade e as áreas não têm tanto diálogo, é mais difícil para a empresa se manter coesa na reação e adaptação a um grande desafio.
- Responsabilidade: empresas que apoiam a sociedade e também seus colaboradores, mantendo-os seguros e dando recursos para que eles cuidem de si mesmos. Isso demonstra compromisso em preparar melhor seu ecossistema para os desafios.
O desenvolvimento de uma soft skill importante como a antifragilidade precisa de esforço e investimento - não pode ser deixado para o acaso.
Nesse sentido, veja 4 ações para começar a construir a antifragilidade da sua empresa:
1. Desenvolva programas de treinamento ou rotações que ajudem os colaboradores a aprenderem de forma contínua
2. Aumente a integração entre as equipes, seja no espaço físico ou no remoto, com a ajuda da tecnologia
3. Construa confiança física, emocional, financeira e digital perante os seus públicos de interesse
4. Priorize saúde mental, bem-estar, diversidade e equidade
Aqui vale também levantar um ponto muito importante.
Nessa preparação da empresa, é fácil cair na armadilha de tentar blindá-la completamente.
Mas o verdadeiro objetivo aqui é construir uma base de confiança, flexibilidade e colaboração para evitar os grandes riscos, mas deixar espaço para tentativa, erro e transformação.
As equipes estão cansadas de tantas mudanças
No entanto, nos últimos anos, as empresas passaram por um nível de volatilidade e desafios muito acima do normal.
E uma pesquisa da Gartner de 2021 revelou que 54% dos gestores de RH dizem que suas equipes se cansaram desse cenário.
Para os colaboradores, essa “fadiga da mudança” se manifesta de 3 formas:
- Apatia: “Os planejamentos não irão se concretizar mesmo”
- Frustração: “Esta empresa faz muitas mudanças”
- Burnout: “A quantidade de modificações suga minha energia, e não consigo fazer o meu trabalho”
Não é preciso nem dizer que apatia, frustração e burnout prejudicam o bem-estar e a performance dos times, o que repercute em resultados ruins para o negócio.
A mesma pesquisa da Gartner também diz que, quando a equipe confia na empresa, o time tem uma capacidade 2.6x maior de absorver mudanças.
Por isso, além de preparar uma base antifrágil na organização, devemos investir na habilidade das pessoas de absorver e lidar com mudanças de uma forma diferente.
E ir um passo além: conseguir usar essa capacidade em grupo - sendo uma equipe antifrágil. Na prática, um time que, quando as mudanças acontecerem, já possua mecanismos para absorver o inesperado com otimismo.
Como desenvolver equipes antifrágeis
Ter um grupo de indivíduos antifrágeis não quer dizer que a equipe é antifrágil.
O grupo ainda pode ter falhas de comunicação, não saber lidar com conflitos e ter pouca segurança psicológica para errar sem ser julgado pela tentativa.Então, primeiro, vamos definir o que é uma equipe antifrágil:

Aqui, podemos aplicar um dos conceitos do livro de Taleb chamado Via Negativa: as pessoas se desenvolvem mais pela subtração do que é ruim, do que pelo acréscimo do que é bom.
Ou seja: primeiro, para desenvolver um time antifrágil, o que é necessário PARAR de fazer? Veja duas sugestões:
- Parar de ter equipes que ficam anos sem mudanças de configuração: assim, você os nega o desafio de lidar com novas pessoas e ideias que poderiam enriquecer o trabalho.
- Parar de ter uma visão homogênea das equipes e das pessoas: ao tentar colocar todos em um padrão, você impede que o negócio acesse o potencial do desconhecido e da diversidade de gerar mais crescimento e inovação.
E o que você pode COMEÇAR a fazer? Veja 4 ações práticas para ter times antifrágeis:
1. Avaliar a antifragilidade já no processo de recrutamento. Você pode medir a inteligência emocional, capacidade de improvisação e aprendizagem ágil dos candidatos já nessa etapa.
Confira aqui uma ferramenta que ajuda você a diagnosticar essa última habilidade.
2. Ser vigilante sobre a quantidade de estressores que a equipe está enfrentando, estimulando-a com responsabilidade. Expor os times à volatilidade precisa ser feito com noção dos limites da equipe e riscos para o negócio.
3. Ter mais membros da equipe com o poder de decisão: para serem antifrágeis, as pessoas precisam poder agir quando não têm todas as informações, ou quando uma previsão não está 100% clara.
4. Fazer simulações de crises também ajuda a desenvolver a antifragilidade das pessoas, pois elas podem tentar e errar com risco zero.

Como ter líderes com antifragilidade
O líder antifrágil sabe que o seu time precisa passar por adversidades para se desenvolver.
E também respeita aquilo que já foi testado e comprovado, mas não a ponto de impedi-lo de colocar algo novo em prática.
Isso significa que, ao invés de usar somente o passado para determinar um caminho, ele também se baseia em hipóteses e na própria curiosidade.
A construção de um negócio e de equipes antifrágeis passa, invariavelmente, pela criação desse líder antifrágil.
Uma das maneiras de fazer isso é ajudar o gestor a criar uma base de segurança psicológica para a equipe. A segurança psicológica é a liberdade que as pessoas têm para interagirem e errar sem medo de represálias.
Na prática, ele deve construir um time que:
- Não julga quando acontecem erros
- Fala abertamente sobre os problemas
- Vê as diferenças como vantagem
- Tem liberdade para pedir ajuda
- Valoriza as contribuições do outro
Outro ponto crucial para ter um líder antifrágil é treiná-lo mais em tomada de riscos e menos em gestão de riscos.
Veja algumas estratégias para atingir esse objetivo:
- Apresentar a estratégia Barbell: mais um conceito do livro de Nassim Taleb. Essa estratégia ensina a direcionar 90% dos seus esforços a coisas seguras, garantidas - e 10% deles a coisas de alto risco. Trabalhando os extremos, é possível vencer seja qual for o resultado - se as ações “conservadoras” gerarem bons frutos, você terá investido a maior parte do seu tempo e esforço nelas. Se as arriscadas não derem certo, elas terão consumido só uma fração dos recursos.Se elas forem bem-sucedidas, o risco terá valido a pena.
- Trabalhar a diversificação de estratégias: um líder que consegue criar várias estratégias eficazes é um líder antifrágil, porque possibilita que a equipe se beneficie da incerteza, sem causar impactos sérios. A redundância e as opções são marcas da antifragilidade - se alguma estratégia falhar, sempre haverá uma próxima para colocar em prática.
- Criar uma cultura de feedback: que seja constante e transparente, onde as críticas construtivas possam expor vulnerabilidades e sejam combustível para o aprendizado e para a evolução. Confira aqui dicas para dar feedbacks que viram resultados.
- Reeducar o líder sobre o propósito: quando o propósito da empresa é claro para todo mundo, tanto gestor quanto equipe consegue tomar decisões melhores sob pressão, ambiguidade e falta de informações - tendo direcionamento de objetivos apesar das incertezas.
- Sugerir o ritual de debriefing: o debriefing é uma reunião focada em entender o que deu e não deu certo e o que foi aprendido depois de um determinado desafio. Ele tangibiliza a antifragilidade, colocando-a na rotina, e ajuda a sedimentar o aprendizado.

Velas ou incêndios?
Na sua obra sobre o antifrágil, Nassim Taleb diz que o mesmo vento que apaga uma vela também espalha um incêndio.
Qual desses dois você gostaria que fosse a sua equipe ou liderança?